Por Gerson Campos, colunista do Yahoo! Esportes
http://br.esportes.yahoo.com/colunas/gerson-campos-button-we-are-the-champions-esportes-87.html
"Let it burn, let it burn", ou "deixa queimar, deixa queimar", gritava John Button (pai de Jenson) ao final do GP Brasil de 2008, quando seu filho chegou aos boxes com o péssimo carro que a Honda usou naquele ano em chamas. E o cenário do pesadelo não parava por aí: depois de nove temporadas de Fórmula 1, John e Jenson ainda tiveram de ver o novato Lewis Hamilton, dois anos na categoria, roubar todas as atenções da imprensa inglesa ao sagrar-se campeão e, mesmo sem querer, carimbar na testa do compatriota o carimbo de promessa que não deu certo.
Mas isso não é tudo, como diriam aquelas propagandas de produtos milagrosos. Em 5 de dezembro, 33 dias depois da última prova do campeonato, a Honda, equipe de Button e Rubens Barrichello, decidiu encerrar suas atividades na Fórmula 1. O motivo: a crise econômica mundial que estourou 81 dias antes com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. No final do ano passado, o quadro era desolador para Jenson Button: estava desempregado depois de quase uma década de F1 e sem chance de assumir um cockpit competitivo. Em teoria.
Na prática, Ross Brawn assumiu o espólio do time japonês, encaixou um motor Mercedes-Benz que casou perfeitamente com o chassi do novo BGP001, manteve a dupla de pilotos de 2008, projetou um genial difusor que tornou seus carros imbatíveis na primeira metade da temporada e, 317 dias depois do anúncio da retirada da Honda da Fórmula 1, comemorou os títulos de construtores e de pilotos com um Jenson Button que cantava “We are the champions” sem acreditar que era ele mesmo o campeão mundial. E por isso repetia a todo instante: “Eu sou o campeão do mundo!”.
É uma história tão bela como a de Rubens Barrichello neste ano, e por isso não se deve dizer que "o pé de chinelo nunca vai ganhar mesmo" ou coisa do tipo. Barrichello fez a melhor de suas 17 temporadas em 2009. Foi perfeito em provas como Valência e Monza, se atrapalhou em várias largadas, é verdade, e sofreu na primeira metade da temporada, mas desde o GP da Inglaterra marcou 9 pontos a mais que Button em 9 GPs e venceu duas dessas corridas, enquanto o inglês não subiu nenhuma vez o topo do pódio.
Mas Button conseguiu lidar melhor como carro no início do ano e fez o começo de temporada mais arrasador da história da categoria, vencendo seis das sete primeiras provas. Enquanto isso, Barrichello não se entendia principalmente com o freio de sua Brawn. Rubens pediu à equipe que trocasse alguns componentes do sistema e passou a render mais que o companheiro de equipe, mas o inglês já tinha vantagem suficiente para administrar e o fez com competência.
É verdade que Button se apagou bastante nas últimas provas e chegou a dar até a impressão de que daria uma “refugada” na hora da decisão, mas fez um GP do Brasil digno de quem não vê a hora de soltar logo o grito de campeão e mandou ver no Fred Mercury ainda no cockpit. Merecido, bonito, legal de se ver. Como foi bonita a atitude de Barrichello, que parabenizou o companheiro na pista, abraçou-o ao descer do carro e participou da festa de comemoração, é claro, com um sorriso meio amarelo, mas participou quando poderia ter pegado o boné e ido para casa relaxar – ninguém o condenaria por isso.
Um campeonato é dividido em várias etapas, e 16 se passaram até que Button pudesse gritar que era campeão. O caminho de uma carreira é maior ainda, e invariavelmente, por mais grana e suporte que tenha o piloto, passa por incertezas e inseguranças, acidentes graves e muitos questionamentos – você pode imaginar quantos deles ouviram um “vai fazer alguma coisa séria da vida” quando as coisas não estavam dando tão certo?
Por isso, por mais piegas que seja dizer isso, Button e Barrichello já foram campeões pelo que fizeram neste ano e pelo que passaram nos anteriores.
Não são pilotos fantásticos. Não são arrojados como Mansell, regulares como Prost, rápidos como Senna ou completos como Schumacher. Longe disso. Mas pilotos como Alan Jones e Damon Hill também não são e foram campeões. E por isso não se pode dizer que o título de Button não é merecido.
Se a Brawn andava sobre trilhos no começo do ano com seu difusor duplo, todas as outras equipes tinham o mesmo regulamento na mão e poderiam ter construído carros tão bons quanto. Ponto para Ross Brawn. Se Barrichello foi irregular na primeira metade da temporada, foi excelente na segunda. Mas Button foi melhor no ano. Ponto para ele.
E outra: quem canta “We are the champions” com a felicidade de um Jenson Button não está ligando nem para a opinião do Papa. Quanto mais para a nossa. Portanto, “congratuleitions, Jeisun!”.
300 km/h
- Barrichello conseguiu conter a emoção e agiu com elegância na derrota. Mais uma evolução em 2009
- Perguntado se achava que o pneu furado foi azar, Rubens respondeu: “Não acredito em azar ou sorte. Não se pode culpar o azar por um problema técnico. Eu acredito em trabalho”. Nem parece o mesmo piloto
- Faltou ritmo à Brawn de Barrichello depois do primeiro pit stop. Button foi mais regular e fez uma corrida melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário